Queijos, charcutaria e vinhos são como hambúrguer e batata frita: inseparáveis. Impossível não imaginá-los juntos, não é mesmo? No entanto, para a experiência ser completa e sentirmos o melhor dos dois mundos em harmonia é importante ter em mente fatores como estrutura dos queijos e embutidos e tipo de uva do vinho.
Trouxe cinco opções de vinhos tintos, do jeito que o brasileiro gosta, que acompanham bem diversos tipos de queijos e embutidos. Entre as opções, há vinhos feitos com uvas tradicionais e também com uvas mais desconhecidas. Afinal, existem mais de 5 mil uvas viníferas e o grande prazer do mundo dos vinhos é descobrir novos aromas e sabores.
Os vinhos da lista vão desde um Alicante Bouschet, produzido no Nordeste brasileiro, passando por um Cabernet Sauvignon do Vale dos Vinhedos (RS), um Pinot Noir, também do Rio Grande do Sul, até dois cortes portugueses, um do Dão e outro do Alentejo.
Confira as minhas dicas e aproveite um delicioso Queijos & Vinhos!
Brasil / Vale do São Francisco (PE)
A partir de R$ 67,00
O primeiro vinho da lista é um tinto Gran Reserva feito com Alicante Bouschet, uma uva francesa, mas muito famosa em Portugal. O interessante é que ele é produzido por um enólogo português, Ricardo Henriques, em terroir do Nordeste brasileiro: no município de Lagoa Grande (PE), pela brasileira Vinhos Rio Sol.
No visual este vinho tem um rubi intenso, límpido. Em nariz, geleia de frutas vermelhas, notas defumadas, de tabaco e de especiarias mais picantes. Quis unir embutidos e charcutaria com esse estilo de vinho, para testar os aromas e as notas mais rústicas – características desta uva –, e deu certo.
Queijos amarelos, duros e curados também pedem vinhos tintos mais encorpados, como esse Alicante Bouschet. Outras harmonizações possíveis são carnes com temperos mais marcados por especiarias, além de carnes curadas e defumadas. E se você for vegetariano, sugiro uma beringela recheada com queijo tofu.
Este vinho passa 9 meses em barrica de carvalho francês, tem teor alcoólico de 13% e deve ser servido em torno de 16ºC (a temperatura de geladeira é de 5ºC ). Já ganhou diversos prêmios. Os últimos, em 2020, foram: ouro no Wines of Brazil Awards e ouro no 19º Concurso de Vinhos e Destilados do Brasil. E viva o vinho brasileiro, que não para de crescer e apresentar qualidade!
Brasil / Vale dos Vinhedos (RS)
A partir de R$ 115,00
Este vinho que escolhi é um especial Cabernet Sauvignon brasileiro de guarda, da vinícola Cavas do Vale. O nome do vinho, Lucindo, é uma homenagem ao patriarca da família, que veio da Itália começar a vida no Sul do Brasil, no Vale dos Vinhedos (RS).
Degustei a safra 2005 – um vinho com 15 anos – e amei! Ele foi envelhecido em pipas de grápia (tipo de madeira) e estava com plena acidez. No visual já estava mudando a cor, de rubi pra tons acastanhados. Degustei ele às cegas também, e os aromas diferem de um Cabernet Sauvignon jovem, que estamos acostumados. Super indico!
Em nariz é complexo e tem aromas delicados, remetendo ao floral da violeta e a frutas pretas maduras, mostrando a ameixa e o frescor da amora. Notas de chá seco e leve toque de alcaçuz confirmam a presença da complexidade olfativa.
Um vinho seco, com acidez, mesmo tendo 15 anos de vida, taninos medianos e maduros, álcool médio e equilibrado, concentração de fruta média e ótimo volume em boca, com 12,5% de teor alcóolico. Indico para amantes de um belo Cabernet Sauvignon, cheio de nuances e aromas.
Sugestão de Harmonização: queijos curados, como Parmesão, Pecorino e Grana Padano, além de embutidos, como salame, copa e parma. Algumas outras harmonizações possíveis, de acordo com a vinícola, são risoto de funghi, carnes grelhadas com temperos finos e churrasco com cortes nobres.
Brasil / Rio Grande do Sul
A partir de R$ 105,00
O vinho tinto Pinot Noir Gurí é um vinho límpido e brilhante, rubi claro, com notas de frutas vermelhas, pimenta negra, traços mentolados e terrosos – como o aroma de cogumelo, característica da variedade Pinot Noir. Um vinho que apresenta bom corpo, taninos macios e elegantes, e que vai encantar a todos os amantes de vinho, mesmo aqueles que buscam vinhos mais encorpados.
Sobre a harmonização, a uva Pinot Noir dá origem a um dos vinhos tintos mais versáteis! E diferente dos mais encorpados, como Cabernet Sauvignon, Tannat e Malbec, por exemplo, a Pinot Noir é o par perfeito para queijos mais leves, porque seus taninos são leves e menos ásperos.
Testei com seis estilos de queijos diferentes: não maturados, como ricota fresca; maturados por fungos na superfície, como Brie; maturados por fungos no interior, como Gorgonzola; semiduros / com fermentação, como Emmental; sem fermentação, como Cheddar; além de queijos duros, como Pecorino. De todos, o único que não harmonizou muito foi o Pecorino.
A Vinícola Família Bebber está localizada em Flores da Cunha (RS), mas uma das suas características é buscar terroirs específicos para cada variedade de uva escolhida. Este Pinot Noir, por exemplo, tem uvas de vinhedos localizados na Serra do Sudeste, a 450 metros de altitude, e em Campos de Cima da Serra, a 900 metros de altitude. Ambos são terroirs do Rio Grande do Sul.
Portugal / Dão
A partir de R$ 169,00
Quer uma dica de um ótimo vinho português? E se eu disser que ele é eco friendly? Isso aí! Um vinho "amigo do meio ambiente", produzido na Denominação de Origem Controlada Dão, famosa por grandes vinhos portugueses.
O Pedra Cancela Eco Friendly foi considerado por alguns críticos portugueses como um dos projetos mais interessantes do Dão. Ele tem quatro uvas emblemáticas de Portugal: Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz e Jaen.
E por que ele é Eco Friendly? Porque suas vinhas – bem como todas as da Pedra Cancela - são cultivadas sob práticas da agricultura sustentável, combinadas com programas de proteção ao meio ambiente. Sua pegada de carbono é neutra. E olha que legal: o rótulo e a caixa são feitos com papel reciclado e a garrafa é feita com vidro mais leve.
O vinho sofre ligeira intervenção enológica, mantendo um caráter mais rústico. Aveludado, cheio, com aroma de frutas vermelhas, tabaco... Eu harmonizei com uma deliciosa tábua de frios, com embutidos e queijos mais curados, mas vai super bem com carnes e massas mais gordurosas, como uma boa Lasanha à Bolonhesa.
Portugal / Alentejo
A partir de R$ 33,92
O vinho mais democrático e acessível da lista é o português Barricado, da vinícola portuguesa Casa Relvas, que já ganhou o mercado com diversos rótulos. Foi produzido exclusivamente para agradar o paladar e o gosto do brasileiro. Como bom português, leva diversas variedades de uvas em seu corte: 40% Aragonês, 30% Alicante Bouschet, 20% Trincadeira e 10% Touriga Nacional.
Tem o visual vermelho rubi. Em nariz, o vinho apresenta aromas frutados, como cereja e framboesa, e notas de especiarias doces, como cravo e canela, além de aromas secundários de baunilha, proveniente dos 6 meses de passagem em madeira. Tem também aromas de café e toques de pimenta.
Os taninos são macios, como o brasileiro que está iniciando no mundo dos vinhos ama. A acidez é média e tem persistência média em boca, sendo um vinho agradável e fácil de beber. O teor alcoólico é 13,5%.
Harmoniza com carnes de caça, cordeiro, cozidos, massas e queijos duros (como esses da foto), além de combinar bem com charcutaria mais picante.
Por desconhecimento, muitas pessoas harmonizam qualquer tipo de tábua de queijos com vinho tinto, de forma aleatória. Mas será que a tábua de frios para vinhos tintos precisa ter geleia de pimenta, frutas frescas e secas, chocolates e doces?
De acordo com técnicas e estudos, além dos meus testes pessoais, os alimentos ideais para se colocar em tábuas de frios que harmonizem com vinhos tintos são os queijos curados e duros (como Parmesão e Pecorino); meio curados (como o Gouda e o Provolone), além dos embutidos de charcutaria.
Queijos de massa mole, como o Brie e o Camembert, são leves e delicados. Por isso, geralmente harmonizam melhor com espumantes e vinhos brancos – ou com a uva Pinot Noir, como mencionei na resenha acima.
Os doces, as nozes e as frutas são mais doces que o vinho tinto seco e meio seco, por isso causam uma "desarmonização". Mas o segredo é testar. Para tábuas variadas, com diversas texturas e alimentos, aposte em um espumante brut ou mais seco ainda, como o nature.
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